segunda-feira, 17 de maio de 2010

PEDREIRAS: CAMINHOS ANCESTRAIS


Terreno da antiga sede do engenho dos Lunas. 11/2009




Estado atual do morro da Balança. 11/2009


Festa de São Benedito/Pedreiras, 11/2009.

A missa de domingo em Pedreiras
Aquela estrada barracenta serpenteando por vales, colinas e outeiros, ligava a cidade de Pedreiras à localidade denominada Barreiros, um punhado de casas de taipa cobertas de palha a cerca de uma hora de caminhada. Palmilhando aquele caminho difícil, os moradores dos Barreiros embrenhavam-se por entre os matagais e corredores de cerca das soltas de gado adensadas de assa-peixe, subindo e descendo encostas, para participarem da santa missa de domingo na igreja de São Benedito, no alto do morro, do mais importante centro urbano da região.A alegria brincando passeava nos rostos daqueles que aproveitando a estiagem partiam para a cidade no alvorecer do domingo, enlameando os pés no pisoteio das ervas poeirentas e orvalhadas. Expectativas auspiciosas animavam os corações daqueles que aos domingos e dias santos deixavam os afazeres do interior dirigindo-se ao centro comercial, local das novidades e das aglomerações humanas: Igreja, comércio, coisas e gentes diferentes... Quem sabe...? Uma companhia interessante...

Pavor do retorno em horas tardiasA volta para casa era movida pelo entardecer da jornada e das esperanças dominicais e tinha no Morro da Balança o principal obstáculo do retorno vespertino. Histórias assombrosas eram associadas à solidão daquele trecho do caminho. Um túnel de altas barreiras coroadas de matagal onde no período de estiagem o transeunte mergulhava totalmente os pés num profundo manto de poeira alvacenta e fina. O entardecer naquele túnel já era escuro, sombrio. Atravessá-lo em horas tardias exigia coragem. E depois, a estrada seguia por um longo trecho aplainado encoberto por grandes mangueiras onde havia um cemitério meio perdido no matagal, outro embargo a superar.Tio Raimundo Cesário uma vez me contou do medo que o assaltou num anoitecer naquele trecho da estrada. Ele saiu vitorioso do Morro da Balança, porém, preocupava-o a solidão do cemitério. Tendo tomado conhecimento do enterro de uma velhinha naquela localidade, já saiu do túnel realmente mergulhado no medo do fantasma. E para surpresa e arrepio de cabelos o avistou caminhando, ao longe, à sua frente. Então, murmurou para si: “Meu Deus...! ali está o fantasma dela... e vai muito devagar... que vou fazer para ultrapassá-lo? muito mais difícil será retornar...!”Assim, tomou a decisão mais razoável: reuniu toda coragem que sobrara do túnel e apertou o passo para ultrapassar o fantasma e seguir seu caminho em paz. Quase correndo, aproximou-se dele, quando estavam ambos em frente ao cemitério. Apressou mais o passo e de um salto o ultrapassou pela esquerda, pois à direita estava o cemitério. O medo era tanto que ele soltou um forte grito que lhe estava preso à garganta: “Ô véeia do diaaabo!!!!!...”A velha também estava andando com muito medo, tomou um bruto susto com o gripo e o salto do tio Raimundo, e resmungou: huummk...! Apontando para o lado do cemitério, falou apavorada: “olha ai a esteira da velha!”. Tratava-se da esteira de palha de babaçu utilizada para transporte do féretro.Foi tudo muito rápido, tio Raimundo não quis conversa só suspirou com alívio quando alcançou as primeiras casas do povoado.


Moradores do povoado BarreirosOs Lunas; as famílias do Zé Chiquinho, do Citonio e do Joaquim Bertolino. Todos dedicados à lavoura. Os Lunas também possuíam engenho de cana e criavam gado.Filhos de tio Raimundo e Dona Benzinha (da familia Luna), em idade decrescente: Raimunda, Mariana, Manoel, Benedita, Irene, Antonio e Maria José. Residiam todos numa casa de taipa coberta de palha de palmeira babaçu, na encosta de uma pequena colina, ali na localidade dos Barreiros, próximo ao engenho dos Lunas. A casa era separada da estrada por um lindo terreiro de piçarra com uma grande cajazeira e o pé de pitomba cujas raízes foram expostas pelas enxurradas, no barranco da estrada.


Copo d’água e casamento de MarianaLembro-me do tio Raimundo deitado em um banco de madeira na sala, sendo medicado por Mariana. Ela, ainda muito jovem, rezava para curar uma dor de dente do pai emborcando-lhe ao rosto um copo d’água. Não sei como conseguia aquilo, sem derramar água.Para o casamento da Mariana com Sinhô (meu irmão) aquele ambiente foi todo enfeitado de bandeirinhas multicoloridas lembrando festa junina e, à noite, resplandecia à luz de Petromax. Rolou muita comida, bebida, arrasta-pé e foguetório. Eu era ainda uma criança, lembro-me que me divertia com os foguetes e no barzinho, vendendo goma de mascar ao lado do seu Antonio Arcanjo. Seu Antonio era um afro descendente já avançado em idade, amigo da família, a quem meu irmão confiou aquele bar improvisado ao pé da cajazeira. É claro que não agüentei o repuxo da noite e logo adormeci ao lado das caixas de guaraná. Só acordei nas altas horas surpreendido por aguardente caindo no meu rosto. Naquelas alturas, já havia alguém fora do controle chamando urubu de meu louro.


Rio Mearim: caravanas no caminho da TrindadeEm 1949/50, eu residia no local chamado Trindade, próximo ao rio Mearim, onde meus pais se fixaram em 1938 para trabalhar com engenho de cana, criação de gado e agricultura. Um menino alto e magricela, com onze para doze anos de idade, foi por esta época que conheci a casa do meu tio Raimundo e passei a ter afinidade com sua família.O acesso direto da Trindade aos Barreiros passava pela localidade Três Irmãos, entrava pelo caminho do Baú, deixava-o à direita e seguia por uma vereda de roça subindo encostas íngremes, serpenteando na mata, para alcançar as soltas de gado da família Luna, já nas planícies dos Barreiros.Por este caminho difícil quase toda sexta-feira circulavam pequenas caravanas de lavadeiras em direção à Trindade e ao rio Mearim. O engenho de meu pai instalado na Trindade, à margem do caminho do rio, tornou-se ponto estratégico de observação para os jovens que apreciavam a moçada das caravanas de lavadeiras de roupa.


Caldo de cana e matrimônioO engenho era local de concentração masculina. Alem dos membros da família, trabalhavam com meu pai diaristas aparentados e albergados de várias origens.Ao raiar do dia os bois já estavam girando ao redor do engenho e a gente cantarolando ao som da moenda e sentindo o cheiro da garapa doce brotando da cana prensada.Creio que as caravanas de lavadeiras de roupa de sexta-feira também contribuíram para a união matrimonial de muitos jovens, naquela época.Sinhô e Antonio foram os braços do meu pai. Desde muito cedo ao lado dele ambos contribuíram de modo significativo na construção do patrimônio familiar.O casamento de Antonio com sua parenta Matilde ocorreu em 1950 e o de Sinhô com Mariana, em 1952, se não me engano.


Bens dos que produzemO casamento de Antônio fez meu pai operar uma partilha de bens. Deu 30% dos bens a cada um deles, ficando com os 40% restantes para seu custeio familiar: ele, minha mãe, minha irmã Judite e Eu. Os demais filhos já eram casados e independentes.Casado meu irmão Sinhô, meu pai lhe passou a administração da propriedade, indo residir em Pedreiras. Assim, nos fixamos no bairro dos engenhos por volta de 1953, quando Judite e eu passamos a nos dedicar melhor aos estudos.Em seguida, a Trindade foi vendida para meu irmão Antonio e Sinhô deslocou-se para a cidade, associando-se a meu pai na usina de arroz.Antonio pagou a Trindade com a própria produção do engenho enviada seguidamente para a cidade. Ali, meu pai negociava os produtos do engenho e da nova empresa: a indústria de arroz em sociedade com Sinhô.


Fortaleza: novo horizonteEm 1954, meu irmão Cesário, casado com Terezinha, residia em Fortaleza e já trabalhava na Editora do Brasil. Foi quando passeando por Pedreiras, levou minha irmã Judite para a capital cearense. Ela ficou por lá cerca de um ano, voltando a Pedreiras em 1955. Nesta ocasião, alcei meu primeiro vôo fora de Pedreiras. Fui residir com Cesário na capital cearense. Mas, esta é outra história...


Independência: limite do conhecimento externo

Independência era, e continua sendo, um punhado de casinhas de taipa e palha de babaçu aglomeradas no entroncamento da estrada de Pedreiras com aquela que segue a Dom Pedro, cortando babaçuais pré-amazônicos.
Na verdade, em companhia de meu irmão Sinhô, já havia estado na pequena Independência, lugarejo situado a poucos quilômetros de Pedreiras, direção a Peritoró, acesso a São Luís, Teresina e demais centros desenvolvidos regionais. 
Nossa ida a Independência sob a coberta de lona do caminhão GMC do Mané Doido, numa chuvosa manhã, significava a solução de um sério problema ocorrido no engenho de nosso pai, ma Trindade.Sob a força impetuosa da junta de bois, Bem-feito e Cirigado, que movia a bolandeira, quebrou-se a moenda central do engenho e a Trindade inteira parou,  no meio daquela semana de verão.

Sem saber bem o que fazer, meu pai autorizou o desmonte do engenho para avaliar danos e projetar uma possível solução. 
A pesada moenda estava com uma fenda aberta em curvatura que se alongava por cerca de 20 a 30 cms., e teria que ser reparada com um tipo de solda especial, não existente em Pedreiras, naquele tempo. 
Creio que se tratava de um tipo de soldagem oxiacetilênica ou a arco elétrico com eletrodo revestido, não tenho certeza. Tenho certeza, no entanto, que descobrimos a existência de um desses processos de  soldagem na pequena Independência; e para lá nos deslocamos com a nossa pesada moenda, por volta de 1950.
 






quinta-feira, 13 de maio de 2010

LAMENTO AO RIO MEARIM: P/Auzair Leite

Foto: Local do antigo Porto D. Conceição. Rio Mearim/Trindade/Pedreiras/Ma./11/2009.

Descendo a ladeira de encontro ao meu rio
Resumindo os pensamentos que me acompanham,
Como a um momento de desvario.
Cada passo que dou, lágrimas brotam dos
olhos pela falta do rio onde secou.

Ali onde antes namorava, e nas suas águas mergulhava,
Agora piso é só chão esturricado...
Ao invés d'agua, de lágrimas me banhava.

Quase sem acreditar no que via, sinto-me asa branca do sertão,
chorando a seca e aos maus tratos ao meu torrão.
Culpo-me! E me justifico! Se é possível justificativa.

Quando arribei de ti minha cidade, fugi do tolhimento dos teus carrascos.
Em tenra idade, abandonada, desrespeitada e sem crença...
Os meus poucos cobres causavam indiferença.

Farta do descaso e do desinteresse de uma política consistente pior do que antes me sinto.
Mas com o sentimento poético que me envolve, não consigo assimilar diferente.
Sobre rever e renovar uma política decente.

Distante de ti minha CIDADE...
Diante de ti oh! Meu RIO eu procuro refletir.
Acho que não fiz muito nem por mim, e nem por ti.

Mergulhando nas lembranças vejo do outro lado.
Uma realidade estarrecedora.
Profundamente consternada, desesperançada... Vejo-te!
E anuncio aqui a minha previsão... Não muito distante.
Um deserto sem vida, apenas grotões, e ressequidos vazantes.



Por Auzair Leite



GOTAS D`ÁGUA DESATINADAS



Desprendem das nuvens, descem em chuva.
Precipitam-se no chão.
Jorram-se em milhares.
Desabrigadas e sem caminho adentro.
Descem dos montes, enchem-se as fontes, rios e ribeirão.
Arrastam as folhagens descobrem raízes.
Barracos infelizes, arrancam das ribanceiras.
E dos desafortunados não tem compaixão.

Correm desatinadas pros leitos: lagos, riachos e mares.
Deságuam cachoeiras, em quedas.
Espumantes ao vento...
Como um véu de noiva ou bolhas de sabão.
Cada gota pingada... Transformou quase, todo o mundo em água.
Que se sentem emancipadas, lavando o nosso chão.

Assim como o mundo, formado em sua maior parte por água...
Também é o nosso corpo.
Como escravo dessas gotas, prontos e disponíveis,
Vivemos... Anoitecemos e amanhecemos.
A falta delas... Desidratamos e conseqüentemente morreremos.


Cada gota de orvalho caída nas folhagens...
Há reconhecimento, e retribuição à própria natureza...
Dar vida... Cresce, e reproduz tudo que se imagina...
Qualquer semente, apenas jogada germina.
Cada gota solta na rosa enfeita e colore a sua beleza...

Destrói vidas e dar vidas...

No útero... Emergindo ao seu tempo, o feto se desenvolve.
Bem protegido das ameaças dos males insanos...
Cumprindo a maior complexidade que a natureza lida...
O ato misterioso da vida.

Cada pingo do chuveiro escorrega sem destino.
Lava, refresca, asseia... Espalha aromas pelo ar.
Alguma delas muito estranha... Escorre em desalinho.
Penetram nas entranhas... Acaricia com carinho.
E quase libidinosa, aloja-se em qualquer lugar.

Algumas gotas d’água atendendo apelos do coração,
Emergem lentas ou rápidas.
Saltam dos olhos, caem na face, deslizam e pingam, se esmagando no chão.
São gotas dolorosas, chorosas, amargas ou felizes...
São gotas sensíveis, criadas e sentidas sem nenhuma premeditação.

Como vimos a maior parte do mundo, é coberto por água...
O nosso corpo é quase todo constituído de água...
Assim também é a nossa vida... Toda necessitada de água.
Portanto, proteja cada pingo, cada gota que cai...
Não deixe ir por ralo adentro...
Todo o nosso mundo, todo o nosso corpo, toda a nossa vida, e todo nosso encantamento.

Hoje teria que ser uma das maiores preocupações mundiais, a escassez, do nosso líquido precioso.

Por Auzair Leite.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

São Luis Ilha do Amor (Patrimônio da Humanidade): Auzair Leite.


São Luís/Ma: Da praça Gonçalves Dias com palmeiras açoitadas pelo vento aos Casarios Açoitados pelo tempo. Fotos: P.F.Leite/out./2009.



São Luis, minha Cidade, linda Ilha do AMOR,
Fonte sagrada de inspiração.
No embalo da arte, cantei, dancei, e te cultuei.
Nas esculturas de pedras, fontes, e escadarias...
Entre lendárias formas antigas__ Suspirei!

Reage à dor do abandono e desmoronamentos,
Em cada pedra do teu antigamente.
Oh! São Luis!
É arte, democracia, é liberdade...
A luta do teu povo te intitulou...
Cidade Tombada... Patrimônio da Humanidade.

Inquieta-me em estranheza...
Diante de tais riquezas, ainda hajam olhares incultos,
Insensíveis à tua História.
Sob efeito da ganância, ou ignorância, ignorem a tua beleza.
Esquecem a tua Memória.

São Luis, jus se faz ao codinome, Ilha do AMOR!
Ao sol forte, musas se transformam em douradas deusas da cor da tua luz.
Vestidas em quase nada, gravam linhas na areia.
Onde mentes profanas sentem amor, desejos, e prazer!

Linda Cidade, oásis de rei de imperador...
Orgulho do Estado Mara...
A terra das palmeiras, como o Poeta um dia recitou...
Ainda canta o sabiá!
Há exuberâncias em cores, pintadas à arte do Criador!

Águas do mar sagrado te banham, em culto de oração.
A Baia de São Marcos se agita! Mas com carinho te abraça...
O Estreito dos Mosquitos, contrário a baia, corre silencioso, calmo...
Que, de acordo com a geografia, separa-te do resto do maranhão.

Sob o amarelo do sol, o azul do céu, e o verde do mar...
Oh Cidade berço da arte e de luz, tem cor de arco íris!
Teu calor aquece os corações, nas danças folclóricas,
O São João, o São Pedro! O vamos festejar! Felizes.
O vento que sopra forte, esfria os corpos da gente,
Ilumina-me a mente, enchendo-me de inspirações.

(Verso de amor por São Luís/Auzair Leite).

UMA POESIA PARA A MAMÃE: Azair Leite.

Mãe, era só você...

Depois, você e eu...
Agora, mãe tambem o sou... pela graça de Deus...

Á minha mãe.

Mãe...
Não sei se o seu dia,
pra mim amanheceu.


Há tanto tempo que não te vejo...
Nem sei se onde está,
permite de mim se lembrar.


Há muito, não recebo um abraço, e
nem um beijo seu.
Num dia de alegria que é o seu dia,
o meu dia... O nosso dia.
Com a sua ausência,
pra mim, entristeceu.


Mas saiba mãe...
Que do pouco tempo que te tive,
pra mim foi inesquecível.


Lembro-me de tudo com saudade.
Você era inocente... E devia mesmo ser...
Casou-se cedo, sem ao menos amadurecer.
Eu, com pouca idade, sabia mais que você.


Mas que audácia a minha, neh, mãe?
Podia até pensar assim...
É que nessa época, eu era o suporte da casa,
todos confiavam em mim.


Lembro-me mãe...
Que por necessidade,
confiou-me os seus momentos mais dolorosos.

Era uma menina de pouca idade,
mas tinha capacidade.
Por isso confiou a mim, o seu derradeiro momento.
Lá estava... Só eu e você
E um montão de sofrimento.


O que me conforma mãe...
É a certeza de que está bem.
A saudade é grande
maior do que ela, só o nosso amor,
pela fé inabalável,
que temos em Deus, o nosso Senhor.


Hoje, sou mãe também...
Cheia de erros e acertos,
Compreendo você, como ninguém...
E como qualquer outra mãe...
Entre filhos, compartilhando amor.
Com paz, alegria e... Sempre...
Na glória de nosso Senhor.

(De Auzair Leite p/ sua mamãe que cedo partiu).

domingo, 9 de maio de 2010

ÁGUA E VIDA


A água é fonte de vida e a vida não subsiste sem a água.

De onde procede a água ?
De onde, a vida ?
Há mais perguntas do que respostas...

A vida contemplada como força criadora capaz de evoluir e adaptar-se para subsistir através dos tempos e realizar o seu desígnio universal, é como um rio caudaloso encaminhando-se para o mar, um manancial vivo e resoluto, uma corrente de infinitas possibilidades, é uma fonte inesgotável de energia em movimento.
A vida é a força e a inteligência que anima a matéria dando-lhe forma, dimensão, movimento e evolução no espaço/tempo, cumprindo os desígnios da Criação.
A matéria é para a vida como o barro nas mãos do oleiro: calcado, moldado e vitalizado. Quando o jarro não atende as expectativas do oleiro, é retrabalhado e renovado. A vida nunca se fadiga de seguir sua marcha moldando a matéria no espaço e no tempo.
Das formas antigas e gigantes como os dinossauros às mais atuais como o Homo sapiens e da Ginkgo biloba às orquídeas, das bactérias às sequóias, a vida trabalha.
O fluxo vital é como o rio de águas caudalosas edificantes que, para realizar a vontade de seu Criador, desce de altas montanhas, percorre encostas tortuosas, banha vales e planícies, vence obstáculos infindáveis, para lançar-se no imenso oceano, nos braços daquele que o gerou.
Bendito seja Deus pelo dom da vida !...

Matéria de Pedro F. Leite


sexta-feira, 7 de maio de 2010

LANCE DA LIDA ONDE SE ENCONTRA DEUS


Gratidão Samaritana...

A vida da gente resulta de pequenas atos e fatos: Somos aquilo que projetamos. E muitas são as pessoas que encontramos no caminho e que nos podem ajudar ou prejudicar, marcando definitivamente nossa personalidade e nossa vida.
Ainda guardo o bilhete, poucos rabiscos de um amigo, dizendo:
"São Luís - MA. 18 de abril de 1965. Amigo Pedro: Soube que estiveste aqui e bem assim de alguns transtornos em tua vida. Sei mais ou menos, ... sem muitos detalhes. Soube de que não vais mais continuar os teus estudos. Preciso falar contigo. Se possível, irei no dia 27 ai, para conversarmos. Pretendo acertar algumas ideias no tocante aos teus projetos de futuro. "Ele continua falando sobre sua vida e trabalho em Bacabal e outras coisas correlatas. E encerra dizendo: "Espero que dentre em breve estejamos comemorando a vitória que ainda não foi possível até agora. Breve nos encontraremos. Sou o amigo Domingos." Ele tomara conhecimento do meu regresso do Recife (PE) onde o concurso vestibular me derrotara e me mandara pra casa, em Pedreiras, onde estava tomando a decisão de não mais estudar, viver trabalhando com meus pais e irmãos nas lides do interior. Aquela conversa reconduziu-me aos estudos e ao encaminhamento à Escola de Florestas da Universidade Federal do Paraná onde pude ser graduado e pós-graduado em ciências florestais.
Um bom amigo, presente de Deus: Ao meu amigo Domingo, hoje meu compadre, agradeço pela iniciativa de me reanimar depois de um tombo. É provável que, ao abandonar o projeto de estudos, o tombo do vestibular viesse a se tornar um trauma. Um bom amigo é um instrumento de Deus.

"Não foram dez os curados ? Onde estão os outros nove ? "   
(O Evangelho:  Lc.17, 11-19 nos conta a cura dos dez leprosos que clamaram por Jesus para serem curados).



(Matéria histórica de P.F.Leite).
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5 comentários:
Mitha disse...
Oi tio! Adorei esta postagem. Como é bom lembrarmos de pessoas que, ás vezes sem tomarem conhecimento, foram tão importantes. Como é gratificante para o amigo Domingo ser lembrado por isso. Grande beijo com muitas saudades.Sua sobrinha Mitha
07:06
Luciano Leite disse...
Um post lindo!!! A sua simplicidade me encanta, tio Pedro.
16:58
Pedro Leite disse...
Vamos gente... escrevam algo...
13:47

LIFE - Centro de Terapias Alternativas disse...
É muito bom saber que um dia o Sr.também pensou em desistir e conseguiu superar todos os traumas e limitações para se tornar este vencedor! Agora, tomando conhecimento disto, tenho mais um exemplo, em meio a tantos outros que já me espelho no senhor! Quero ter esta mesma perseverança para seguir adiante e não desistir nunca de meus sonhos! Grande Abraço de sua filha que lhe ama, Kelly Cristine.
21:46
LIFE - Centro de Terapias Alternativas disse...
Este braço da foto eu conheço,heim?? kkk
18:03
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quinta-feira, 6 de maio de 2010

FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO (REEDITADO)


Fragmentos Históricos


Segundo a história, o marco inicial da capital cearense data de 1611 e 1612 quando foram construídos o Forte de São Sebastião e a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. 
Em 1649, a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, erguida pelo Capitão Holandês Matias Beck passa a fazer parte do cenário com o nome inicial de Forte Schoonenborch. 
Em 1654, expulsos os Holandeses, os portugueses mudaram o nome "Forte" para "Fortaleza", dedicando-a a Nossa Senhora da Assunção. 
Desde 1942, o local é sede do Quartel-General da 10ª Região Militar do Exército Brasileiro. Dentro da Fortaleza há um pequeno museu dedicado ao General Antonio Sampaio, herói cearense da Guerra do Paraguai. Canhões antigos ainda podem ser vistos no local. No pátio, há também uma estátua de Martins Soares Moreno, herói cearense, sertanista incumbido pelo Governador Geral, D. Diogo Meneses e Sequeiras (1608/12), de estabelecer comunicação com tribos indígenas. Tornou-se personagem do escritor José de Alencar que o apresenta em convívio harmonioso com índios potiguaras.


A Caminhada e a Poeira da Estrada


O homem nasce, vai crescendo e explorando ao seu redor. Depois ganha asas, voa longe e alto, buscando conhecer o mundo e saborear a vida. Geralmente, a caminhada, seus projetos, o ocupam inteiro, não sobrando tempo para bem apreciar o presente ou dar atenção ao passado.


Os cabelos brancos servem para indicar o tempo de reduzir o passo e emitir um olhar por sobre os ombros, para recolher algumas pepitas de ouro esquecidas na poeira da estrada, por conta da pressa da jovem caminhada.



A Pepita


No início da minha caminhada encontra-se São João do Tauape de onde recolho lembranças, verdadeiras pepitas de ouro de minha juventude. Jovem, puro, inquieto, interrogativo e cheio de esperança, em 1955, fui conduzido do interior para a capital, indo residir com meu Irmão, recém casado, em São João do Tauape, bairro em expansão nos areais pras bandas da Base aérea de Fortaleza, saída de Messejana. Numa visita com a família ao Maranhão, para rever nossos pais, meu irmão quis ajudar-me nos estudos. Nem todo jovem do interior possuía alguém da família na capital para acolhê-lo, dando-lhe oportunidade de estudar e ter um futuro melhor. 

Novidade e deslumbramento

Para aquele jovem, naquela época, quase tudo era novidade em Fortaleza. E, assim como, em 1531, do olhar da Virgem de Guadalupe projetou-se o pobre índio mexicano Juan Diego, em 1955, as luzes da cidade de Nossa Senhora da Assunção saltaram do inocente e deslumbrado olhar daquele novo habitante.

Luzes e Cores da Cidade
















No centro elegante e inundado de luzes, belos edifícios e casas comerciais exibem multicores letreiros luminosos. Os postos de combustível destacavam-se por suas viscosas ofertas de gás e oleoSHEL X 100, Motor Óleo, Faixa Dourada, com ICA.



As praças e ruas centrais são espaços onde o nordestino exibe sua engenhosa capacidade de venda e sobrevivência. A rua do correio era marcada pelo equilibrismo de um paraplégico que divertia o transeunte. Braços musculosos palmando a calçada sustentavam um corpo miúdo de pernas finas que simulavam asas atreladas às costas. O homem, emitindo som de aeronave, executava com o corpo uma aterrissagem, reunindo pequena multidão com suas proezas, enquanto moedas caiam em seu prato amassado de alumínio. Enquanto isso, na calçada do Café Val-Can, um jovem mudo vendedor de jornais repetia: "Orrei pô"!!!, Ôrrei pô"!!! (o Correio e o Povo). Na praça José de Alencar outro vendedor exclamava: "Desinfetante pra mala, maleta e guarda-roupa, pedra pra Isqueiro, e oito pedra e cinco!!!"

Retornando a Fortaleza muitos anos depois, fiquei admirado de ver aquele mudo, agora homem feito, repetindo praticamente a mesma oração: kiorrê-pôf- kiorrê-pôf .


Traços do São João do Tauape

Diversos, como os intermináveis cordões de luz elétrica que com freqüência enfeitavam ruas de areia ou de chão batido, com pouca freqüência de automóveis.

Do centro para o bairro do São João do Tauape, seguia-se de ônibus pela rua Joaquim Távora, passando em frente a igreja Coração de Jesus, seguindo em direção à Base Aérea. O ônibus entrava à esquerda, pela rua Monsenhor Salazar onde, ainda hoje, se encontra a igrejinha de São João Batista, indo estacionar, poucas quadras adiante, à sombra de uma grande figueira (pé de benjamim). Ali, motorista e cobrador podiam tomar um gostoso caldo de cana, enquanto os passageiros lotavam o ônibus, retornando ao centro da cidade.

São João era pouco habitado. Do ponto final do lotação até nossa residência seguia-se a pé, por mais duas quadras e meia, em pesado areal, alcançando a casa nº 4132 da rua Carlos Vasconcelos. Hoje, rua Professor Carvalho, a casa ainda tem o nº 4132. Com algum cuidado, ainda é possível descobrir traços daquele tempo. A Casa era caiada, tipo bangalô, com uma entrada coberta, jardim e duas janelas desenhadas para aquela rua de areia fofa. 
Ao lado, havia um salão de barbeiro que depois foi anexado a casa por conveniência e segurança. 
Há poucas quadras ficava a mercearia do Zé Abreu, onde se podia comprar leite e pão, uma vara de trigo embrulhada em grosso papel. 
Havia também uma grande mercearia-bar junto à parada final do ônibus, reconhecida pela grande quantidade de portas que possuía. 
São João do Tauape era um imenso areal difícil de trilhar em dia de sol. Nas proximidades da casa do Zé Abreu, havia um bar freqüentado por meu irmão. Ele costumava estacionar o jipe para tomar um trago. Neste local, certa vez, estando eu no jipe, enquanto meu irmão tomava uma dose, quase aconteceu um acidente. Eu ainda não sabia dirigir automóvel. Resolvi aproveitar a oportunidade para exercitar alguns conhecimentos adquiridos apenas por observação. Liguei o carro. E meu irmão ouvindo o barulho gritou... Eu me espantei com o grito e, retirando o pé da embreagem, fiz o jipe avançar em direção a uns garotos que brincavam na areia, à frente. 
No início de 1956, era nostálgico caminhar naquele areal ouvindo as músicas carnavalescas executadas por um serviço de alto falante local.




A cidade: contrastes em versos.




Resplandece a cidade altiva e formosa
Com um céu azulado e lindo horizonte,
Onde a estrela do dia passeia majestosa,
Desenhando paisagens alegres, fulgurantes...







Os rumores noturnos se fazem passageiros,
A passarada se apressa fechando a madrugada,
Ao prever da manhã os albores primeiros,
Aflitos preparam eloqüente jornada...
A brisa costeira soprando rasteira,
Sacode os coqueiros e bafeja as restingas,
Seguindo mais longe, alcança os sertões,
E invade os rincões de cipós das caatingas.







Por vales profundos de verdes isentos,
Apressado se lança ruidoso o vento,
Moldando espinhos e alisando a cera,
De aguçadas palmas de carnaubeira.










Cantando ao embate de agudas serras,
O vento se dobra em intensa exaustão,
Com gemidos e uivos, abatido se entrega,
Ao rigor da caatinga, à aridez do sertão...







As areias costeiras que os passos envolvem,
Protegem a cidade das ondas revoltas,
Que domadas e mansas às praias se lançam
Descanso e lazer para quem as alcançam...




A labuta dinâmica das ruas do centro
É lorota,  é dinheiro, é negócio opulento,
Em vivo contraste com bairros singelos,
De casas caiadas, de pouca zoeira,
De gente modesta vendendo na feira...




Embalando a abundante e dócil ramagem,
Ao impulso salino de alísios ventos,
Cajueiros, coqueiros, enfeitam a paisagem,
Com folhas coreáceas e frutos suculentos.