terça-feira, 27 de julho de 2010

Quarenta e cinco anos de pouca mudança

O mesmo amigo e a mesma caligrafia

Recentemente, visitei São Luís do Maranhão, onde pude rever parentes, amigos e lugares. Fiquei feliz em abraçar o amigo Domingos e seus familiares, especialmente, sua progenitora (Dona Galiana) e suas irmãs, minhas colegas e contemporâneas do Ginásio Correa de Araujo, de Pedreiras (Rosa, Maria do Carmo e Crisantheme). Foi realmente uma grande alegria poder abraçá-los e resgatar muitas experiências estudantis e ver que o compadre continua o mesmo Domingos de sempre, claro, um pouco mais filosófico, batido e enriquecido pelo tempo. Homem calmo, de aparência frágil mas, de espírito forte, com aquela conversa farta e equilibrada, modelada num português castiço e sempre eloquente.

Ao saber do meu interesse de ir visitar a região dos Lençóis Maranhenses, o amigo Domingos mandou-me um bilhete com o seguinte teor:

"Compadre Pedro Leite. Cuidado com os objetos encontrados nas praias de Barreirinha, Lençóis Maranhenses, pois, segundo tradição, esses objetos são tomados por "forças encantadas" e fazem as pessoas que estão na posse dos objetos supracitados voltarem aos locais "cem vezes, como castigo"".

E concluiu: " Não acredite... mas, no Maranhão... nada é impossível.

São Luis (MA), 12/11/2009. 16 h 7 mim".

Achei incrível: a caligrafia do compadre quase nada mudou, no tempo (de 1965 e 2009).

De fato, fomos ver de perto a beleza dos Lençóis maranhenses: Fomos de carro, eu, minha esposa, Lilian e minha subrinha, Maria Leite. A estrada é boa e tranquila. Por causa de problema com aeronave não deu para fazer o sobrevoo das dunas, tradicionalmente oferecido em Barreirinha. Mas, valeu o passeio no rio Preguiça onde, por ocasião de um banho, acabei espetando o pé numa casca de ostra, ficando no ostracismo o resto do tempo, isto é, sem possibilidade de fazer novas aventuras por lá.

Creio que isto me ocorreu porque não dei a devida importância às recomendações do compadre Domingos. Bem que ele me havia recomendado cuidado com os objetos de Barreirinhas. No meu caso, o objeto era apenas uma casca de ostra.

Cruz Credo !...



sexta-feira, 23 de julho de 2010

MÃE TERRA, POR TUDO O QUANTO EM TI VIVI, SOFRI, SONHEI E APRENDI, TENS O MEU AMOR FILIAL


Estive distante:


Inicialmente, é necessário dizer que grande parte de meus anos os tenho vivido fisicamente distante porem, mentalmente presente na Trindade.
Uma terra que não me viu nascer, não me deu fama nem meritório saber porem, ensinou-me a moldar os primeiros sapatos de lama, a suportar com paciência os primeiros espinhos, a conservar a alma simples, amante da natureza, e a confiar nas promessas de um Deus cheio de amor pela humanidade.

Raízes / Sonhos: Terra  da Primeira Vista:

É necessário acrescentar que, por onde tenho palmilhado a longitude de meus dias, neste nosso grandioso pais, guardei sempre com carinho as raízes do meu ser, uma acalentadora lembrança da terra que avistei primeiro - a "Trindade", amiga e benfazeja - que me deu guarida às travessuras infantis, e embalou-me os dourados sonhos do raiar de minha existência. Sonhos de inocente criatura, plasmados nos embates da rudeza singela de incultas plagas, do entorno de uma pequena cidade em gestação: 


Pedreiras:


Um povoado florescente, mergulhado em verdejantes paisagens de babaçuais, com suas cercanias acidentadas e pontilhadas de pastagens, sítios e lavouras, associadas a singelos agrupamentos de casas, geralmente de barro, cobertas com folhas de palmeira.


Escravos e Imigrantes, Fixação na Terra:

Foram tantos os núcleos de ocupação humana surgidos naquelas terras, desde a implantação das antigas fazendas de escravos até a primeira metade do século passado, quando a região recebeu muitas levas de imigrantes, os fugitivos da seca nordestina. Eram caravanas enormes, formadas por dezenas e até centenas de familias, que chegavam com seus pertences, à região de Pedreiras, provenientes, principalmente, do sertão do cariri cearence, andando a pé ou montando mulas.
Os núcleos desenvolvidos a partir das sedes de fazendas de escravo receberam denominações que se cristalizaram no tempo. Quero lembrar, especialmente, aqueles onde meus familiares, nas primeiras décadas do século passado, se fixaram como imigrantes: São Manoel, Olho d' Água, Sítio Novo, Bom Jesus, São Domingos, Belem, Transual, Imbaubinha, Trindade, Barreiros, Caiçara e Baixa-Fria, alem de outros.

A Trindade de Minha Infância

A mudança: 


Nasci em abril de 1938, no Anjo da Guarda, um bairro em formação na entrada da cidade de Pedreiras. Por volta de setembro do mesmo ano, meus pais compraram as terras da família Galvão, uma antiga fazenda de escravos denominada Trindade, à margem esquerda do Mearim, a cerca de 12 quilômetros de Pedreiras, rio acima. Assim, com quatro meses de vida, fui levado a viver naquele local ermo e doentio. Numa linda colina, nas proximidades de um lago, a aproximadamente um quilômetro do rio, nossa residência foi erguida com madeira, cipó, barro amassado e palha de babaçu. E, numa suave elevação, mais próxima ao lago, foi construida uma casa-de-engenho: grande galpão coberto de palhas de palmeira, fechado com varas e atado com cipós e fibras de árvore. Seria mesmo um lindo lugar e o mais perfeito para se construir a morada dos sonhos, se não fosse um sanguinário inimigo: o mosquito da malária.

A familia abatida: 


Uma febre intermitente típica de regiões de floresta tropical úmida abateu-se sobre todos os componentes da familia recem-chegada. O lago era o principal geradouro do mosquito e a malária, o açoite terrivel que transformou nossas vidas num inferno, durante muitos meses. As crises febris eram debeladas com remédios à base de quinina, manipulados nas farmácias de Pedreiras, nos finais de semana.
As farmácias dos Srs. Vicente Benígno e Carlos Martins estavam entre os pontos principais de visita do agricultor daqueles tempos difíceis, após a missa do domingo, ou mesmo durante a semana, quando a urgência se fazia necessária.

(A matéria deste Blog é de uso livre, com citação da fonte).